É preciso ter um bom estoque de cinismo — ou uma absoluta falta de noção — para, em meio a uma operação da Polícia Federal que investiga o desvio de recursos públicos em sua gestão, o prefeito de Patos, Nabor Wanderley, cogitar uma candidatura ao Senado como se nada estivesse acontecendo.
Sim, caro leitor, você não leu errado. A cidade em frangalhos, dinheiro público supostamente desviado, servidores investigados, contratos sob suspeita, e o prefeito… sonhando com Brasília.
É o Brasil de cabeça para baixo. Em vez de prestar contas à população, Nabor aparece em entrevistas dizendo que “a população entenderá” se ele renunciar ao cargo para se lançar ao Senado. A população entenderá o quê, exatamente? Que um gestor foge do cargo em busca de foro privilegiado, caso seja investigado e acabe virando réu? Que abandona o barco no meio da tempestade para tentar um mandato maior? Que larga a cidade no colo dos escândalos e vai posar no horário eleitoral?
A cidade de Patos está no centro da Operação Outside, que escancara a suspeita de um esquema de desvio de milhões de reais em obras públicas. E esse escândalo não é de hoje, é reincidente. Patos já viu outras operações, outras manchetes, outros escândalos. O que muda agora é a ousadia do protagonista.
Em vez de explicar, se esquiva. Em vez de governar, já prepara o próximo salto. Como se a cadeira que ocupa hoje fosse um simples degrau, um banco de espera. Não é. É um compromisso com o povo, com o erário, com a ética, valores que parecem estar em falta por essas bandas.
Enquanto isso, a cidade sangra. Quem anda pelas ruas de Patos vê obras inacabadas, saúde em colapso, denúncias que pipocam nos portais de notícia. E, para completar o escárnio, o prefeito fala em “entendimento” da população. Ora, prefeito, a população não quer entender sua ‘fuga’ do problema, quer que o senhor entenda seu dever.
Renunciar agora não é gesto de coragem. é covardia política. É fugir do desgaste, abandonar a crise, escapar das perguntas incômodas. É usar o povo como trampolim. E ainda acreditar que o povo é bobo.
A verdade é dura: quem governa uma cidade envolta em lama, não tem moral para pedir confiança em âmbito nacional. Quem silencia diante de escândalos, não merece microfone em sabatinas. Quem foge do fogo não merece o aplauso do Senado.
Se Nabor tem um pingo de respeito pela história de Patos — e pela própria biografia — deveria esquecer as urnas e encarar os anos que ainda restam de mandato. Um gestor que tem explicações a dar. E muitas.
Porque, no fim, o povo pode até esquecer discursos, slogans, jingles de campanha. Mas não esquece quem abandonou sua cidade no momento mais crítico. E isso, senhor prefeito, nem a melhor assessoria política do mundo vai apagar.
Fonte: Primeiras Noticias