Na Prefeitura de João Pessoa o cultivo de plantas medicinais nas Unidades da Saúde da Família (USFs) e nos Centros de Práticas Integrativas (CPICs), vem sendo ampliado através da realização de oficinas dirigidas aos servidores e a comunidade. Esse trabalho vem possibilitando a orientação e prescrição de plantas medicinais em forma de chás e lambedores nos atendimentos nas unidades de saúde e a doação de cerca de 3.000 mudas à comunidade em ações desenvolvidas pelas equipes no município.
Essas ações têm como base pressupostos teóricos da agroecologia e da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, inseridas no Plano Plurianual de Saúde de João Pessoa, de 2022 a 2025.
“Nosso trabalho vem sendo realizado por meio do diálogo com a comunidade, com as Residências Médica de Família e Comunidade, Multiprofissional em Saúde da Família e Saúde Mental, docentes e discentes de instituições de ensino superior, e demais atores sociais envolvidos na produção do cuidado em saúde”, explica Patrícia Margarete, coordenadora da Área Técnica de Práticas Integrativas e Complementares (PICS) do município.
Segundo ela, as hortas medicinais estão sendo cultivadas em várias unidades básicas de saúde. As USFs Quatro Estações (Mangabeira), Verde Vida (Bairro das Indústrias) e Integrada Grotão (Grotão) são referências nesse trabalho. “O cultivo de hortas medicinais nos serviços de saúde, tem por objetivo resgatar os usos, sentidos e costumes das plantas medicinais no cuidado à saúde das pessoas”.
Oficinas – As ervas medicinais podem ser encontradas em ervanários, lojas de produtos naturais, farmácias de manipulação, mercados e algumas feiras livres. Mas, para aqueles que têm interesse em aprender como plantar e cultivar, podem participar das oficinas nas unidades de saúde, que ofertam o serviço para a comunidade gratuitamente.
Recentemente foi realizada uma oficina na USF Verde Vida para orientar os profissionais habilitados (médicos, enfermeiros, dentistas, nutricionistas) e demais trabalhadores de saúde sobre plantas medicinais utilizadas para tratar gripe e resfriado, tema escolhido devido ao surto de gripes instalado em todo o país há pouco tempo.
Entre as terapias recomendadas na oficina estavam chás de alho, gengibre, romã e hortelã da folha grossa; além de lambedores de abacaxi e hortelã da folha grossa.“Nosso objetivo é incentivar o cultivo nas comunidades, nos espaços públicos, casas e apartamentos”, afirma Carminha Amorim, agroecóloga e assessora técnica de PICS.
Na ocasião, foi distribuída uma cartilha com orientações sobre preparos de chás e lambedores, além do uso seguro de plantas medicinais em gripe e resfriado. A elaboração do material foi realizada pelos técnicos dos CPICS do município e da Pessoa Idosa, pelos Médicos da Família e Comunidade, com base em pesquisa em literatura especializada oficial e revisada por professores da área de saúde da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Nesse trabalho com as hortas medicinais nos serviços de saúde, a agroecóloga destaca, também, os resultados positivos obtidos com a “articulação com os trabalhadores da saúde, que possibilitou a orientação e prescrição das plantas medicinais em forma de chás e lambedores; além da distribuição de mudas à população e a construção do conhecimento das plantas medicinais envolvendo o ensino, a pesquisa e a extensão”.
A coordenadora da área técnica do PICS, Patrícia Margarete, ressalta, ainda, a importância das ações desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e Área Técnica de PICS para o fortalecimento da Assistência Farmacêutica e da Fitoterapia no município. Esse fortalecimento vem ocorrendo por meio da implantação da Farmácia Viva em condições agroecológicas, institucionalizada como meta do Plano Municipal de Saúde (2022-2025).
A dona de casa Ivonete Cavalcante, 65 anos, é filha de agricultores e desde criança faz uso da medicina natural. “Eu cresci assim sendo tratada com ervas medicinais. Minha mãe aprendeu com os pais e avôs e eu trouxe também para minha família. Sempre associei o tratamento natural às orientações dos médicos para tratar desde gripes, resfriados ou machucados”, explica. Atualmente usa a espinheira santa para auxiliar no tratamento da gastrite.
Ela participou de Oficina sobre como fazer uma horta de plantas medicinais, realizada pela equipe da USF de Mangabeira. “Foi muito bom incentivar as pessoas a ter uma hortinha em casa. Pudemos aprender mais e também levamos um pouco do que cada um sabia”.
Ivonete até baixou um aplicativo para aprender mais sobre as ervas. “Na minha horta tenho hortelã da folha grossa, boldo, boldo do chile, hortelãzinha, cidreira, arnica, manjericão, mastruz, erva de santa luzia, babosa. Só em cuidar delas já uma terapia. Eu amo”.
Cultivo – Nas hortas medicinais agroecológicas estão sendo cultivadas, manjericão, hortelã da folha grossa, boldinho, camomila, erva cidreira, capim santo, amora, babosa, colônia, chachambá, saião branco, cana do brejo, hortelã da folha miúda, arruda, entre outras. As espécies vegetais medicinais selecionadas e cultivadas, são conhecidas pelo contexto popular e referenciada pela literatura sistematizada. Quem tiver interesse em obter mais informações pode entrar em contato com assessoria técnica de PICS do município de João Pessoa ou ligar para o número (83) 998555699.
Acompanhamento Médico – O projeto com ervas medicinais nas unidades de saúde tem o acompanhamento de grupos de médicos na especialidade de Médicos de Família e Comunidade que procuram conciliar os tratamentos à base de medicamentos alopáticos e fitoterapia. Médica residente em Medicina de Família e Comunidade, Erika Ribeiro, atua na USF do Grotão. Ela busca o viés de dar mais autonomia à comunidade, potencializando as pessoas no que elas desejam para sua saúde. “Buscamos orientá-las a cuidar da saúde física e mental”.
Segundo ela, tudo começa pela escuta terapêutica. “É comum que as pessoas cheguem ao consultório com queixa de insônia, por exemplo, que muitas vezes está relacionada a problemas familiares, financeiros, relacionamentos com o companheiro ou com os filhos. Uma queixa aparentemente simples, após a escuta, toma outra dimensão, ao conhecer o contexto das pessoas”, falou. A médica explica que o ato de falar sobre as próprias aflições, dos problemas do cotidiano, bem como preparar um chá para o autocuidado faz parte do tratamento. “São intervenções em que a pessoa se apropria do seu processo. Em muitos casos ela mesma tem como se posicionar e amenizar o problema”, disse.
“Durante o tratamento, nós falamos sobre as plantas medicinais, como usá-las e incentivamos que as pessoas cultivem suas próprias ervas como uma terapia complementar. Mostramos que muitos dos problemas apresentados no consultório, como ansiedade, insônia ou depressão, podem ser amenizados com o uso orientado das ervas medicinais” quando leves e de início recente, só utilizando medicamentos quando os agravos são moderados ou graves. Nesses casos, em alguns contextos, também é possível associar alopatia e fitoterapia.