Conhecido nos bastidores como um parlamentar falastrão e errático, o deputado estadual Tião Gomes, do PSB, voltou ao noticiário paraibano empunhando mais uma bravata: a ameaça de criar uma CPI contra a secretária de Desenvolvimento Humano, Pollyanna Werton, sob a alegação de que emendas impositivas dos deputados não estariam sendo executadas.
A encenação, contudo, tropeça nas próprias contradições. Tião Gomes e Pollyanna Werton são correligionários no PSB, partido presidido pelo governador João Azevêdo — um detalhe que escancara, mais uma vez, a fragmentação e o fogo amigo dentro do governo. A secretária, inclusive, vem sendo alvo de críticas recorrentes de parlamentares da base, que a acusam de usar a visibilidade do cargo para viabilizar uma eventual candidatura a deputada federal.
Nos corredores da Assembleia, entretanto, o deputado não costuma ser levado a sério nem pelos próprios colegas. Seus arroubos costumam surgir quando pleitos — sobretudo financeiros — deixam de ser atendidos. Não por acaso, a ameaça de CPI foi lida por muitos como pressão política travestida de fiscalização.
A incoerência fica ainda mais gritante quando se recorda que, no escândalo do Hospital Padre Zé, caso que chegou a motivar proposta de CPI e supostamente envolvia a própria secretária, Tião Gomes preferiu o silêncio. Nada de indignação, nada de CPI — para não tumultuar o Palácio da Redenção. Agora, quando lhe convém, o discurso muda.
Para desespero do deputado, Pollyanna Werton respondeu com firmeza. Classificou as acusações como infundadas e desnecessárias e foi categórica: Tião nunca procurou a Secretaria de Desenvolvimento Humano e não existe qualquer projeto de sua autoria tramitando na pasta. A secretária, conhecida por não mandar recados, cobrou retratação pública.
O episódio revela mais do que um conflito pontual: é o retrato de um teatro político de mau gosto. Se o “diligente” deputado realmente quisesse exercer o papel fiscalizador que tanto apregoa, há fatos bem mais robustos dentro do próprio governo que poderiam — e deveriam — ser investigados. Entre eles, denúncias de supostos beneficiamentos comerciais envolvendo o cunhado do governador em Campina Grande, tema já levantado publicamente pelo comunicador conhecido como Tenente Robson.
Mas isso exigiria coragem política, não apenas retórica inflamada seletiva. No fim das contas, os que se dizem aliados de João Azevêdo parecem empenhados em sabotar o próprio governo. O resto é barulho. E do mais raso.
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