Uma mancha extensa, escura e com mau cheiro atingiu parte do mar na praia do Bessa, em João Pessoa, próximo à praia de Intermares, em Cabedelo, na manhã da última segunda-feira (17). O fenômeno, que causou espanto e indignação entre frequentadores das praias, levanta preocupações sobre a qualidade ambiental das águas costeiras e a gestão do saneamento básico na região.
De acordo com a Superintendência de Administração e Meio Ambiente (Sudema), há suspeitas de que a água do mangue, um ecossistema costeiro onde o rio encontra o mar, esteja desaguando no oceano junto com as águas do rio Jaguaribe. No entanto, para a professora doutora Cristina Crispim, titular da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e coordenadora do Laboratório de Ecologia Aquática, o problema vai além de um episódio isolado.
“Isso é resultado de um processo cumulativo de descaso com o tratamento de esgoto. O estuário do rio Jaguaribe acumula grande quantidade de esgoto ao longo do seu trajeto. Com a chuva intensa, a barra do rio foi aberta e toda essa água escura, carregada de matéria orgânica em decomposição, foi lançada no mar”, explicou a especialista.
Segundo Cristina, a água escura é resultado da decomposição de matéria orgânica, formando compostos como ácidos úmicos, semelhantes a um “chorume aquático”. Esse material acumulado gera um impacto ambiental significativo ao ser despejado no ambiente marinho.
“Enquanto não tratarmos o esgoto de forma adequada, esses episódios vão se repetir. O problema é que não estamos apenas prejudicando a qualidade da água do rio, mas também comprometendo a balneabilidade das praias, que são um dos principais atrativos turísticos de João Pessoa“, afirmou.
Para a pesquisadora, a solução passa pela adoção de tecnologias ecológicas, como fossas ecológicas e sistemas de biorremediação. Esses métodos, segundo ela, poderiam melhorar a qualidade da água do rio e evitar que o material contaminado chegue ao mar.
“Existem tecnologias sustentáveis e acessíveis para tratar o esgoto antes de ele ser despejado no rio. É possível implementar sistemas de tratamento coletivo em condomínios e bairros, além de processos de biorremediação que auxiliam na recuperação do próprio rio. O que falta é vontade política e uma maior conscientização da população“, ressaltou.
Cristina Crispim também destacou a importância de um esforço conjunto entre poder público e sociedade para enfrentar a questão de forma efetiva.
“Estamos empurrando o problema com a barriga. A população está cansada de ver esgoto sendo lançado nos rios e praias, e a solução não pode ser deixar para resolver no futuro. Se não tratarmos isso com seriedade, nossas praias continuarão perdendo sua balneabilidade, afastando turistas e degradando o ambiente“, alertou a especialista.
A Sudema informou que investigações estão em andamento para avaliar a extensão do dano ambiental e definir medidas para mitigar os impactos causados. Enquanto isso, moradores e frequentadores das praias aguardam soluções para evitar novos episódios de poluição nas águas costeiras.